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Emprego, arte e energia: o que a IA já está mudando sem você perceber
IA que consome cidades inteiras, artistas que perdem seus direitos, e CEOs que trocam pessoas por máquinas. Entenda o que está acontecendo e o que o Brasil pode aprender agora.

O debate sobre IA e direitos autorais no Reino Unido
O governo britânico está tentando aprovar uma lei que deixaria empresas de inteligência artificial usarem obras de artistas como textos, músicas, filmes e imagens para treinar seus sistemas sem pagar nada por isso. Só escaparia quem conseguisse entrar com um pedido formal para não participar. Difícil, caro e quase impossível de monitorar.
A proposta já foi rejeitada cinco vezes pelo Parlamento, mas continua voltando. Artistas, estúdios e criadores estão revoltados. Um estúdio famoso, o da animação Wallace & Gromit, disse que teria que gastar mais de R$ 2 milhões por ano só para proteger suas obras desse uso não autorizado.
E por que isso importa para o Brasil?
Porque esse tipo de lei pode virar exemplo para outros países. E aqui ainda não temos uma regra clara para proteger o conteúdo criado por brasileiros contra esse tipo de uso por sistemas de IA. Ou seja: livros, músicas, vídeos e textos brasileiros podem já estar sendo usados por grandes empresas, sem autorização e sem retorno para quem criou.
Proteger os criadores é essencial para garantir que a tecnologia avance sem destruir quem produz cultura, informação e arte. A discussão já começou lá fora e o Brasil precisa entrar nesse debate, antes que seja tarde.
Monitoramento e auditoria de uso de conteúdo
Enquanto isso, startups especializadas em rastreabilidade de dados estão crescendo. A ideia é usar blockchain, impressões digitais ou IA reversa para identificar se uma obra foi usada em datasets de treinamento.
Plataformas como Originality.AI e Have I Been Trained? já ajudam artistas a descobrir se suas criações foram utilizadas sem permissão.
Proteger os criadores é essencial para garantir que a tecnologia avance sem destruir quem produz cultura, informação e arte. A discussão já começou lá fora e o Brasil precisa entrar nesse debate, antes que seja tarde
O fim do trabalho como conhecemos?
Uma nova reportagem do Gizmodo expõe o que muitos executivos pensam, mas poucos dizem em voz alta: a inteligência artificial está sendo usada agora, não no futuro, para cortar empregos em massa. “IA não pede aumento, não entra em greve”, resume Elijah Clark, CEO e consultor de grandes empresas.
A matéria revela o outro lado da moeda: trabalhadores invisíveis alimentam sistemas de IA com tarefas precárias e mal pagas, como rotulagem de dados e moderação de conteúdo traumático. Adrienne Williams e Krystal Kauffman, pesquisadoras do DAIR, alertam que estamos vivendo uma “nova era de trabalho forçado”.
Enquanto isso, líderes como Ai-jen Poo, da National Domestic Workers Alliance, defendem um novo pacto: tecnologia que respeita o trabalho humano e amplia dignidade, não lucros. A pergunta central da reportagem: vamos deixar a IA mudar o que significa ser humano?
Zuckerberg promete IA superinteligente confiável (e aposta alto em óculos inteligentes)
Horas antes de divulgar os resultados da Meta, Mark Zuckerberg publicou uma carta pública defendendo o acesso universal à “superinteligência pessoal”, uma IA avançada para uso individual, capaz de ajudar cada pessoa a atingir seus objetivos, crescer e criar o que quiser.
Ele reforçou que o futuro da computação será pessoal, principalmente via óculos inteligentes, e que a IA avançada já está em desenvolvimento, mesmo que seu progresso seja “lento, mas inegável”.
O manifesto também alfineta rivais como OpenAI: Zuckerberg rejeita a ideia de uma IA centralizada que automatiza tudo e distribui renda básica. Em vez disso, defende que a superinteligência deve empoderar indivíduos, não substituí-los.
A carta vem após um movimento agressivo da Meta: um investimento de US$ 14,3 bi na Scale AI e a criação de um novo laboratório de superinteligência, que já contratou nomes de peso de concorrentes como Google, Apple e Anthropic, com salários chegando a US$ 100 milhões.
Data center em Cheyenne vai consumir mais energia que todas as casas de Wyoming e poderia abastecer Curitiba inteira.
Cheyenne, capital do estado menos populoso dos EUA, será sede de um novo mega data center de IA que vai começar consumindo 1.8 gigawatts, mais do que todas as residências de Wyoming juntas. E pode crescer até 10 GW, o equivalente à energia usada por 10 milhões de casas americanas.
Para efeito de comparação:
Toda a cidade de Curitiba consome cerca de 1.4 GW em média.
Fortaleza: aproximadamente 1.6 GW.
O data center inicial já superaria esses centros urbanos e sua expansão poderia abastecer quase toda a Grande São Paulo em dias normais.
O projeto está sendo liderado pela Crusoe e Tallgrass, e aproveitará o clima frio e a energia barata de Wyoming, um dos maiores exportadores de energia dos EUA. A promessa é abastecer o centro com gás natural e fontes renováveis dedicadas.
Mas há preocupações:
Impactos no clima e na conta de luz regional
Dependência crescente de combustíveis fósseis para sustentar IA
Falta de clareza sobre quem vai operar esse centro, mas a OpenAI está entre os nomes especulados.
Google assina Código de Boas Práticas da UE para IA (mas quer moldar as regras)
Em um movimento estratégico, o Google confirmou que vai assinar o Código de Boas Práticas da União Europeia para IA, mesmo após criticar o texto por ser “rígido demais”. A decisão visa manter a empresa próxima dos reguladores e longe de multas pesadas.
A assinatura dá ao Google voz ativa na aplicação das regras, como exigência de transparência nos dados de treino e alinhamento com leis de direitos autorais. A empresa defende que a regulação “não pode sufocar a inovação” e estima que a IA pode gerar 1,8 trilhões de euros por ano à economia europeia até 2034.
Enquanto isso, a Meta se recusa a aderir, temendo restrições ao desenvolvimento de modelos de fronteira. OpenAI deve assinar. Microsoft ainda avalia.
O Código é voluntário, mas funciona como porta de entrada para cumprir o AI Act, a lei mais avançada do mundo para regular IA. E quem não seguir, paga: multas de até €35 milhões ou 7% da receita global.
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